A terceira edição da Cúpula de Financiamento para Investidores em Infraestrutura da África fechou com um compromisso sem precedentes: US$ 18 bilhões serão destinados a projetos estruturantes no continente. O evento, realizado em Luanda, reuniu dois mil líderes, incluindo chefes de Estado, investidores e parceiros de desenvolvimento, para debater o futuro das obras de integração regional. O montante será aplicado em 38 projetos considerados bancáveis e em 11 iniciativas prioritárias do Programme for Infrastructure Development in Africa (PIDA), o plano mestre da União Africana para integração de infraestrutura.
Compromisso histórico transforma panorama de investimentos
A coorganização entre a Comissão da União Africana (AUC) e a Agência de Desenvolvimento da União Africana (AUDA-NEPAD) deu peso político ao encontro, cujo tema central foi “Capital, Corredores, Comércio: Investindo em Infraestrutura para a AfCFTA e Prosperidade Compartilhada”. A Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA) representa um mercado integrado de 1,4 bilhão de pessoas, e os líderes reconheceram que infraestrutura eficiente é condição essencial para que o acordo gere resultados práticos.
A declaração oficial da cúpula foi celebrada pelos chefes de Estado como um marco na capacidade africana de planejar e financiar seu próprio desenvolvimento. A CEO da AUDA-NEPAD, Nardos Bekele-Thomas, enfatizou a mudança de paradigma:
“Esta cúpula corrigiu um desequilíbrio duradouro. Por muito tempo, o imenso poder financeiro da África, nossas poupanças, nossa riqueza soberana, nosso capital institucional, permaneceu passivo na história de nosso próprio desenvolvimento. Esse capítulo, esperamos, está sendo encerrado agora.”
— Nardos Bekele-Thomas, CEO da AUDA-NEPAD
Novo modelo de financiamento foca em projetos bancáveis
Os líderes africanos admitiram que, apesar de progressos recentes, um “vasto déficit de financiamento e infraestrutura persiste”, principalmente por falta crônica de projetos bancáveis. A solução adotada é uma transformação estrutural na abordagem de preparação de projetos de alto risco em estágio inicial.
A declaração de Luanda estabelece compromissos claros: reformas de políticas para alavancar capital institucional doméstico — fundos de previdência social, riqueza soberana e seguros — por meio da 5% Agenda. A iniciativa incentiva investidores institucionais africanos a alocar 5% de seus ativos sob gestão em infraestrutura do continente. Bekele-Thomas garantiu aos parceiros internacionais que a disciplina fiduciária será correspondida com clareza regulatória e preparação de projetos em escala.
As deal rooms da cúpula movimentaram o equivalente a US$ 43,9 bilhões em oportunidades. A distribuição revela as prioridades estratégicas: US$ 25 bilhões para corredores de transporte e logística, US$ 15 bilhões para interconexões e geração de energia, US$ 2,7 bilhões para segurança hídrica e US$ 1,2 bilhão para infraestrutura digital.
Corredores econômicos integrados ganham prioridade
A abordagem de Corredores Econômicos Integrados foi fortemente reiterada como modelo preferencial. A estratégia combina logística eficiente por meio da aceleração de rodovias transafricanas e da Rede Ferroviária Africana Integrada; energia confiável com a implementação do Mercado Único de Eletricidade Africano e seu Plano Diretor do Sistema de Energia; e redes digitais de alta velocidade conectadas a polos industriais.
A Comissária de Infraestrutura e Energia da União Africana, Lerato Mataboge, destacou o espírito de Luanda:
“Luanda mostrou, mais uma vez, o espírito de liderança pan-africana, determinação visionária e propósito unido. Chefes de Estado e governo continuarão nos lembrando que a África pode, e vai, planejar, financiar e entregar o alicerce de sua própria prosperidade.”
— Lerato Mataboge, Comissária de Infraestrutura e Energia da União Africana
Para acelerar a entrega, 13 projetos do PIDA Priority Action Plan 2 foram selecionados para fast-track. A AUDA-NEPAD e a Aliança de Instituições Financeiras Multilaterais Africanas apresentarão um plano de aceleração no Fórum de Investimento Africano, em Marrocos, em dezembro de 2025.
Capital institucional africano é protagonista
Duas medidas concretas e imediatas foram anunciadas. A primeira é a revitalização da Presidential Infrastructure Champions Initiative, que desbloqueia gargalos em programas de infraestrutura transfronteiriços. A segunda é uma estratégia unificada de capital que a AUDA-NEPAD apresentará para endosso formal dos chefes de Estado na cúpula da União Africana em fevereiro de 2026.
A declaração também pressiona bancos multilaterais e parceiros internacionais a flexibilizar condições de financiamento, explorando mecanismos de reestruturação de dívida e realocação de direitos de saque especiais para liberar espaço fiscal. A estimativa é que os 54 países do continente precisem gastar entre US$ 130 bilhões e US$ 170 bilhões anualmente em infraestrutura nos próximos anos.
Mataboge concluiu com otimismo: “Deixamos Luanda não apenas inspirados, mas mobilizados. Vamos levar adiante o espírito de colaboração que definiu esta cúpula e transformar cada compromisso em um corredor, cada visão em um projeto viável e cada aperto de mãos em uma relação duradoura.”
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Data original da publicação: 05/12/2025