A Índia está em meio a um dos maiores booms de infraestrutura digital da Ásia, com um investimento de até US$100 bilhões em novos data centres. No entanto, essa expansão acelerada enfrenta um obstáculo crescente: a escassez de recursos essenciais como eletricidade e água, que ameaça comprometer a sustentabilidade do crescimento a longo prazo.
A magnitude do investimento e capacidade atual
A Índia possui atualmente cerca de 1,5 gigawatts de capacidade instalada em data centres, com aproximadamente 1,4 gigawatts adicionais em construção e outros 5 gigawatts em fase de planejamento. Os gastos de capital estimados para essa expansão variam de US$30 bilhões a US$45 bilhões, considerando apenas a infraestrutura, sem incluir custos de servidores. As projeções indicam que o investimento total no setor pode alcançar US$60 bilhões já em 2024 e chegar a US$100 bilhões em 2025, segundo consultoria Deloitte.
Essa magnitude reflete a mudança estrutural na demanda: a inteligência artificial e a adoção acelerada de nuvem criaram uma nova classe de centros de processamento que consomem muito mais energia por metro quadrado do que as instalações tradicionais. Onde antes havia simples salas de servidores, agora surgem verdadeiras “fábricas de computação”.
Concentração geográfica e riscos de esgotamento
Um dos desafios mais críticos é a concentração espacial desses investimentos. Mumbai, o hub financeiro do país, abriga 40% de toda a capacidade operacional de data centres, enquanto Chennai responde por 20%. Ambas as cidades funcionam como pontos de aterragem para cabos submarinos de internet, o que as torna atrativas para grandes operadores globais. No entanto, essa concentração amplifica os riscos sobre a infraestrutura local.
A competição por recursos se intensifica em outras regiões: estados como Andhra Pradesh têm atraído projetos significativos, inclusive empreendimentos recentes da Google, graças a incentivos governamentais e alianças políticas estratégicas. Essa dispersão gradual pode aliviar a pressão em pontos tradicionais, mas aumenta a necessidade de coordenação nacional.
A crise energética em perspectiva
A eletricidade é o fator limitante mais imediato. Segundo análises da S&P Global Commodity Insights, a demanda de energia dos data centres deverá aumentar de forma acentuada: passando de menos de 1% do consumo total de eletricidade da Índia atualmente para aproximadamente 2,6% até 2030. Enquanto a demanda geral de energia do país crescerá em média 5,3% ao ano, a demanda dos data centres acelerada a 28% anualmente no mesmo período.
O desafio vai além da geração absoluta de energia. As redes elétricas locais, especialmente em Mumbai e Chennai, já operavam próximas à capacidade máxima durante os períodos de pico. Novos campi de data centres competem pela energia com residências e indústrias. Na ausência de upgrades infraestruturais rápidos, operadores podem ser forçados a depender de geradores diesel ou plantas captivas, aumentando custos e emissões de carbono.
Água: um recurso igualmente crítico
Para além da energia elétrica, o consumo de água representa outra preocupação aguda. Os data centres requerem água em abundância para sistemas de resfriamento. Projetos estimam que o consumo de água desse setor mais do que dobrará, partindo de aproximadamente 150 bilhões de litros em 2025 para 358 bilhões de litros até 2030. Em um país que já enfrenta escassez hídrica em várias regiões, essa demanda adicional coloca pressão significativa sobre aquíferos e mananciais urbanos.
A competição por água em cidades já estressadas amplifica a necessidade de soluções inovadoras: sistemas de reciclagem hídrica, aproveitamento de chuva e tecnologias de resfriamento mais eficientes tornam-se imperativas.
Soluções em energia renovável e armazenamento
Simultaneamente, há sinais positivos. Globalmente, metade dos novos data centres utiliza energia renovável, e a Índia segue a mesma tendência. O Yotta NM1, o maior data centre indiano próximo a Mumbai, já obtém metade de sua energia de fontes renováveis, com meta de atingir 70%. Telhados solares, sistemas de armazenamento em bateria e microrredes locais emergem como ferramentas viáveis.
O governo indiano acelerou incentivos através de esquemas de financiamento de lacunas de viabilidade, que oferecem suporte de até 30% nos gastos de capital para projetos de armazenamento de energia em bateria isolados. Essa abordagem aponta para um futuro onde renováveis possam sustentar a crescente demanda dos data centres.
O panorama econômico global e oportunidades
A expansão dos data centres na Índia insere-se em um contexto asiático mais amplo. No trimestre final de 2024, o investimento em data centres na região Ásia-Pacífico saltou 114% em relação ao ano anterior, alcançando US$2,8 bilhões, impulsionado por fusões e aquisições.
Para a Índia, que gera aproximadamente um quinto dos dados globais mas possui apenas uma pequena fração da capacidade de armazenamento mundial, o investimento representa uma oportunidade histórica. A lacuna entre geração de dados e infraestrutura de processamento local tornou o crescimento não apenas atrativo, mas essencial.
O teste definitivo: sustentabilidade vs. crescimento
O dilema central para a Índia é manter a aceleração do desenvolvimento econômico digital sem comprometer seus objetivos de energia limpa e segurança de recursos. O boom de US$100 bilhões em data centres é tão importante quanto o modo como será executado. As próximas decisões sobre planejamento energético, infraestrutura hídrica e regulação ambiental determinarão se essa transformação será um trunfo duradouro ou um esforço insustentável.
Grandes conglomerados indianos posicionam-se para dominar esse mercado em expansão, buscando uma posição de destaque na economia global da inteligência artificial. A questão que permanece é se a Índia conseguirá escalar sua infraestrutura de suporte na velocidade necessária.
Texto elaborado de forma original, com base em informações de agências de notícias e veículos especializados, sem reprodução literal do conteúdo das matérias citadas.
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Data original da publicação: 03/12/2025
